Imigrantes italianos no convés do veleiro Anna Pizzorno |
É bem brega, mas acho que vou pedir para a
comissária de bordo avisar pra fazer um brinde quando estivermos passando pela
Linha do Equador. Afinal, há duas histórias interessantes sobre essa passagem
que envolvem minha família, de lado de mãe e pai. Por isso envolvem também a
Itália e essa viagem. Do roteiro da guerra eu já falei. A outra história
aconteceu muitos anos antes, em janeiro de 1875, com membros de famílias embarcadas
naquela que acredito ter sido a primeira imigração em massa de italianos para o
continente americano, ou a “Mérica”, como eles falavam.
Eram cerca de 50 famílias de sul da Itália e outras
50 do norte, principalmente das cidades de Modena, Concordia Sulla Secchia e Novi
di Modena. O navio era o veleiro Anna Pizzorno, o antigo vapor Estrela do
Norte, do qual haviam retirado as máquinas. Era extremamente lento. De forma
que a partida de Gênova ocorreu a 20 de dezembro de 1874 e a passagem pelo
Equador deve ter acontecido só na segunda quinzena de janeiro.
Foi grande a ansiedade dos colonos pela passagem da
linha divisória do mundo. As histórias se multiplicavam, espalhadas em grande
parte pelos marinheiros da tripulação. Uns diziam que não era raro o
próprio Netuno, rei dos mares, aparecer no momento. E todos teriam que fazer um
novo batismo, com água do mar, para que Netuno deixasse que eles passassem. Também
havia a necessidade de fazer o ritual do grande pulo, para atravessar de fato a
linha. Alguém lembrou que a ocasião geralmente era comemorada com uma festa.
Nisso todos concordaram logo.
Assim foi feito naquele dia, em que a passagem pelo
Equador ocorreria no final da tarde. Realizaram uma mascarada, regada a doses
de vinho. Como acontecia nas noites, os colonos dançavam em grupo a “manfrina”
ou a “tarantella” ao som de um pequeno órgão e uma cornamusa. Como fantasias,
os homes se vertiam com roupas de mulheres e vice-versa. Todos com o rosto
pintado de carvão, tirando gargalhadas até dos que estavam com medo de que tudo
se inverteria ao passar para o outro lado do mundo, com o que está em cima
ficando em baixo, homens virando mulheres, brancos virando negros e assim por
diante.
Na hora marcada, um marinheiro anunciou a cerimônia
do grande pulo, para que a viagem fosse tranqüila. Como altar, apresentou um
tonel cerrado ao meio, sobre o qual haviam sido colocadas tábuas.
Às seis da tarde, o sino de bordo deu o sinal para
o início da cerimônia. Mal começou e surgiu Netuno, que foi recebido pelo
comandante. Todos que estavam no convés rodearam o altar improvisado. Após um
discurso, o comandante perguntou pelo jovem mais corajoso, para que desse o
grande pulo. Um jovem de Mantova, chamado Ferdinando Miglioli, se apresentou. Era
um tipo galhofeiro que gostava de contar histórias e trajava vestes apropriadas
para o momento: um vestido longo emprestado. Ouviu de Netuno que, como penitência
para cruzar o Equador em segurança, teria que correr pela ponte e saltar sobre
o altar improvisado. Assim fez. Ao pisar no alto, entretanto, as tábuas cederam
e o jovem caiu no tonel, que todos notaram estar cheio de água. As gargalhadas
encerraram a cerimônia.
Quase 70 anos depois, início de julho de 1944, no
Navio General Mann, desta vez indo pra Itália, Netuno voltaria a marcar
presença. É o que escreveu Italo Diogo Tavares:
“A passagem do equador foi um dos episódios do qual
jamais me esquecerei. O comandante do ship
ofereceu um prêmio de 200 dólares para quem primeiro avistasse a Linha do
Equador. Às três horas da tarde, atravessamos a tradicional linha imaginária.
Houve a comemoração desse grande acontecimento. Tivemos a visita do rei Netuno,
o soberano dos mares. Depois de benzer a todos nós e nos desejar boa viagem,
ele permitiu que atravessássemos a linha. Todos os oficiais receberam um
diploma alusivo ao fato”.
Se Netuno levar em consideração meus precedentes
familiares e permitir minha passagem, em breve teremos mais novidades.
algum familiar seu estava neste navio?
ResponderExcluirSim, meu bisavô Giusto Lanfredi
ExcluirNa verdade descendo de quatro destas famílias: Provasi, Maretti, Sgarbi e Marassi, fundadoras da colônia italiana do hoje município de Porto Real, RJ.
ResponderExcluiro meu descendente era o Enrico Secchi que foi o responsavel por essas familias italianas
ExcluirSem dúvida, e deixou um importante livro em que narra essa história. Tenho uma cópia deste livro: I miei 56 anni in Brasile.
ExcluirBacana Diogo eu tb descendo. Flavio Sgarbi
ExcluirTambém temos a copia,estou fazendo um trabalho para escola sobre meu tataravô Enrico. voce tem mais alguma foto do navio?
ResponderExcluirNão tenho. Esta eu achei através de pesquisa na internet, mas não consegui me assegurar 100% de ser uma imagem do Anna Pizzorno.
ResponderExcluirOlá Sou descendente dos Sgarbi e estou tentando juntar o quebra-cabeça. Onde posso achar a lista de passageiros do navio? Tem ideia?
ResponderExcluirOi, Marcelo, a lista dos passageiros deve ter no Museu do Imigrante, em Porto Real. Esta imigração é anterior ao início dos levantamentos existentes on line, se não me engano a partir de 1890. Mas podemos até ser parentes, pois minha bisavó se chamava Regina Sgarbi, casada com meu bisavô Faustino Provasi. Ambos nasceram em Concordia Sulla Secchia, Itália, cidade uns 40 km distante de Modena, MO. Ele em 1868. Espero ter ajudado.
ExcluirOi, Marcelo, encontrei aqui nas minhas anotações que a Regina Sgarbi era filha de João (Gianni ou Giovanni) Sgarbi e Amalia Sina. Creio que os três e mais alguns familiares estavam no navio.
ResponderExcluirSou trineto de Luigi Sgarbi, italiano de Novi di Modena que chegou a Porto Real certamente neste navio. Diogo Tavares, você tem mais informações? Obrigado!
ResponderExcluirOi, Paulo, desculpe a demora em responder. Provavelmente somos parentes. Minha bisavó era Regina Sgarbi, que veio da Itália criança, com os pais João e Amalia, e casou em Porto Real com o também imigrante Faustino Provasi, meu bisavô. Luigi deve ser irmão ou tio dela.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOi, Diogo. Desculpe, só agora estou vendo sua resposta. Fiz inúmeras pesquisas e consegui descobrir muita coisa. Imigrantes de Novi di Modena, província de Modena: Giovanni Sgarbi, Antonio Sgarbi, Luigi Sgarbi e Regina Sgarbi. Giovanni, pai de Regina. Antonio, pai de Luigi. Acredito que Giovanni e Antonio eram irmãos e, portanto, Regina e Luigi eram primos. Tenho mais informações, detalhes, inclusive dos seus antenati. Se quiser saber entre em contato comigo. Abraços .
ResponderExcluirOlá Paulo...tudo bem!!! Também estou realizando pesquisa a respeito dos meus antenatis,também fizeram parte da Colonia de Porto Real , são eles os Gherardi (na colonia ficou Gheraldi/Gueraldi)e os Berardo. Conheço a Casa do Imigrante de Porto Real. Você utiliza o FamilySearch?
ResponderExcluirBOA NOITE A TODOS...Este blogger ainda está em atividade?Minha familia por parte paterna também viveu na Colonia conforme eles chamavam..eu visitava as vezes Porto real sendo a ultima vez em 2019 antes da pandemia..Agora retornei a pesquisa pois minha intenção é reunir todas as informações num livro..Convive com muitas destas familia Sgarbi, Orioli, Ferreti,a minha é Bergianti..Passando a pandemia voltarei a Itália com um grupo de genealogistas..gostaria de manter contato com vcs se for possivel...Telma
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